quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Ouvindo Entrelinhas: "O Tempo" de Felipe Valente



Ano novo, e está na hora de começar a movimentar isso aqui.
Uma das coisas que eu amo na arte cristã, é a possibilidade de pegar algo que geralmente é representado por uma linguagem herdada da Idade Média e já está saturado e ver isso retratado de formas diferentes e belas.
Não é diferente com a música. Acontece que nem todo mundo consegue captar a essência de algo artístico e poético demais – seja um filme de arte ou um livro cheio de metáforas complexas, ou com música.
Muitas pessoas têm dificuldades de enxergar a mensagem por trás de algumas músicas muito simbólicas ou com arte muito rebuscada. Pensando nisso, resolvi criar - sem a pretensão absurda de achar que entendo tudo, sou lerdo pra essas coisas - um marcador no blog para destrinchar letras de canções, poemas e mesmo vídeos e imagens esporadicamente.
“Ouvindo Entrelinhas” estreia em grande estilo com um poema do Felipe Valente, do seu álbum de 2009, “O Tempo”, que funciona como uma espécie de prelúdio para a música “Jamais” (regravada mais tarde pelo Leonardo Gonçalves).

Ouvir “Jamais” joga uma luz no que “O Tempo” quer dizer, mas ainda assim, eu tive alguma dificuldade de ir direto ao ponto ao ouvi-la.
Então para estrearmos, segue abaixo o vídeo com o poema (clique aqui se quiser ouvir também a música “Jamais”) . Tente tirar suas próprias conclusões e só depois leia a análise que fiz - caso perceba algo que não percebi, gentileza comentar rs.
Enjoy!



"O anseio do mistério sem nome:
 ter o eterno e sentir sua ausência
Lança-nos ao dissabor da falência"

"Tudo fez formoso em seu tempo; também pôs a eternidade no coração do homem, sem que este possa descobrir a obra que Deus fez desde o princípio até ao fim." Eclesiastes 3:11
Esse é um dos princípios mais básicos da doutrina bíblica.
Quando Deus criou o homem Ele colocou a ETERNIDADE no nosso coração – tanto no sentido de espaço (Deus colocou um grande espaço no coração que só pode ser preenchido por ele), quanto no sentido de tempo (ele colocou a ideia de eternidade no nosso coração, o desejo por ela e a sua existência).
É bem claro na Bíblia que, a consequência de se comer o fruto da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal seria a morte.
Portanto, presumimos que sim, temos a promessa de vida eterna, mas mais do que isso, temos o desejo de eternidade no coração. Um anseio, um mistério que até que saibamos disso, não tem um nome: temos o eterno no coração, mas sentimos sua ausência pela inevitabilidade da morte, como consequência, somos lançados ao “dissabor da falência”.

"Paradoxo brutal que a fé consome
O que nos prende a tal absurda fome?
A distorção da natural essência, do tempo vítima
Sem existência, serve ao desejo sem ter quem o dome"

Natural essência = eternidade, porém distorcida... Fome pela eternidade que só pode ser suprida pela fé em Deus e confiança completa nele. Caso contrário, "serve ao desejo sem ter quem o dome"
Natural essência que foi distorcida como vítima do tempo.
A análise filosófica diz que, por ser eterno, Deus vive FORA do tempo. O tempo é diferente pra quem não tem um relógio correndo.
Nós fomos criados para sermos eternos, mas somos vítimas do tempo por conta do pecado.

"Mas a graça única do cordeiro,
que a altivez humana ao pó reduz
Uniu-nos com o tempo verdadeiro
Pois antes mesmo da formação da luz,
a salvar, o destino derradeiro,
Fez-se o brado: Haja cruz! E houve cruz."

A última frase faz referência direta ao princípio do mundo, quando a primeira coisa que D-s criou foi a luz, e a Bíblia narra que ele disse: "Haja luz!" e houve luz.
Deus sendo onisciente, ele SABIA o tempo inteiro que a humanidade pecaria. Mas seu amor era maior do que o desejo pela manutenção da ordem no universo. Ele precisava expor a todo o universo que seu maior atributo era o Amor, e não a punição.
Então antes mesmo da formação da luz, a cruz já "existia".
E existia para nos libertar de uma vez por todas da escravidão do tempo, unir-nos com o tempo verdadeiro que é a eternidade. A cruz reduz a altivez humana por fazer da “rendição” e do símbolo de fraqueza (a entrega) a única arma capaz de vencer a guerra contra o relógio.
O Deus eterno se submetendo ao tempo e sofrendo todas as consequências de se viver sobre ele (crescer, envelhecer, morrer), e depois o vencendo ao ressuscitar como um ser humano que não caiu em pecado, “uniu-nos com o tempo verdadeiro”.
O "Houve cruz" foi a afirmação de certeza necessária para que na música “Jamais”, o Felipe Valente pudesse cantar com toda a fé que tem: "Mas chegará um tempo em que eu não morrerei jamais, e o tempo me deixará em paz, o antes e o depois não existem mais."
O tempo verdadeiro.


E aí, gostou? Para esse marcador, eu aceito sugestões! Se quer enviar alguma música para essa parte do blog, é só deixar um comentário!

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